Cinto Lombar

Cinto Lombar

Cinto Lombar, devo utilizar?

A dor nas costas afeta 36% da população brasileira e 68% dos atingidos buscam tratamento. Os dados são de um estudo feito pela Escola Nacional de Saúde Pública, ligada a Fiocruz. Os pesquisadores entrevistaram 12.423 pessoas com mais de 20 anos, de todas as regiões do Brasil. A coluna é a segunda maior fonte de dor no mundo, atrás somente da cabeça. Levantamentos do IBGE indicam que 5,5 milhões de brasileiros sofrem de hérnia de disco, por exemplo.

A coluna vertebral é uma das partes mais importantes do corpo humano. As vértebras lombares, L1 a L5, são as mais envolvidas com dores nas costas porque sustentam a maior parte do peso do corpo e estão sujeitas aos maiores esforços e tensões da coluna vertebral.

A dor é a queixa mais comum em casos de afecções musculoesqueléticas e principal causa de afastamento e incapacidades em trabalhadores no mundo todo. As dores musculoesqueléticas podem ocorrer em condições agudas e crônicas, ser localizada ou difusa, decorrer de comprometimento de estruturas articulares, tendíneas, ósseas, dos músculos e suas fáscias. De acordo com a Revista CIPA, no âmbito ocupacional, as disfunções na coluna lombar são as mais comuns e onerosas dentre os distúrbios musculoesqueléticos no trabalho, sendo uma das principais causadoras de afastamentos.

Uma das principais causas associadas às lesões na coluna lombar são os trabalhos repetitivos que exijam o manuseio de materiais, em especial aqueles onde há flexão ou torção de coluna com manipulação de cargas com peso elevado.

As principais patologias ocupacionais ligadas a coluna lombar são a lombalgia e a hérnia de disco:

Lombalgia

Não é uma doença, mas sim uma dor causada na região lombar. Dentre as possíveis causas de lombalgia podem-se citar causas mecânicas (ex.: excesso de peso, movimentos bruscos, etc.), inflamatórias, nervosas, reumáticas e quando não é possível definir a causa pode-se denominá-la dor lombar inespecífica, podendo ainda ser aguda ou crônica. As lombalgias agudas não estão relacionadas a nenhum fator definido e geralmente ocorrem após um esforço físico excessivo.

Cerca de 90% dos indivíduos com dor lombar aguda apresentam melhora da dor em quatro semanas e apenas 2-7% evoluirão para sua forma crônica.

A dor crônica ocorre em qualquer idade e em aproximadamente 75-85% dos pacientes que se afastam do trabalho ela se torna recorrente.

Hérnia de Disco Lombar

É uma doença degenerativa que acarreta na saída do líquido pulposo através de uma fissura do seu anel fibroso, acarretando em compressão das raízes nervosas correspondentes a hérnia de disco, causada pelo aumento da força exercida no núcleo pulposo. Algumas vezes o núcleo pulposo não se rompe, ele apenas se descola empurrando contra as estruturas ao redor. Quando isso acontece o problema ganha outro nome, o de protrusão discal. 

Cinto Lombar

O cinto lombar já foi considerado um EPI – Equipamento de Proteção Individual há cerca de 20 anos quando veio pela primeira vez para o Brasil. Entretanto dada a ausência de informações que comprovassem a sua eficiência levou o Ministério do Trabalho e Emprego a suspender o certificado de aprovação deste produto, passando a ser comercializado apenas como vestimenta. De acordo com a Norma Regulamentadora n° 06 – EPI “é todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”, sendo este aquele com Certificado de Aprovação (CA) emitido pelo MTE.

De acordo com fabricantes de cinto lombar, quando este é aplicado e usado corretamente, os usuários têm os seguintes benefícios:

  • Compressão intra-abdominal auxiliando a manutenção da curva lombar e dorsal;
  • Melhor alinhamento da coluna;
  • Diminuição da compressão nas vértebras;
  • Alívio na tensão da região lombar (vértebras L3, L4 e L5).

Entretanto, segundo o NIOSH – Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional, agência federal dos Estados Unidos responsável pela realização de pesquisas e produção de recomendações para a prevenção de lesões e doenças relacionada com o trabalho, atualmente inexistem dados comprobatórios suficientes sobre a eficiência no uso de cintos lombares, portanto, este deve ser utilizado com cautela, não pressupondo que seu uso irá evitar lesões na coluna.

Especialistas em saúde afirmam que há riscos durante o uso do cinto lombar e que este não é indicado para todos os trabalhadores. Durante o levantamento manual de uma carga o trabalhador tende a prender a respiração – manobra de Valsalva – o que aumenta a pressão na região torácica e abdominal, o que por si só, já é um risco para aqueles trabalhadores que apresentam problemas cardíacos e de alteração da pressão arterial. Especialistas na área de saúde recomendam que trabalhadores hipertensos, com doenças cardíacos e vasculares, problemas e disfunções em órgãos e tecidos da região abdominal, funcionários com excesso de peso e obesos não façam o uso do cinto lombar.

Portanto, caso a empresa opte pelo uso do cinto lombar é necessário lembrar que:

  • Não há dados científicos que comprovem o benefício do seu uso;
  • Colaboradores usando cinto lombar tendem a levantar mais peso do que o recomendado, acreditando que estão protegidos;
  • De nada vale o uso do cinto, sem uma análise ergonômica adequada do posto de trabalho.

Nosso entendimento quanto ao uso do cinto lombar é que o melhor caminho para prevenção de ocorrência LER – Lesão por Esforço Repetitivo ou DORT – Distúrbios Osteo musculares Relacionados ao Trabalho é o investimento em melhorias no ambiente de trabalho, assim, o uso do cinto abdominal não deve ser visto como único e suficiente na prevenção de lesões à coluna lombar. Nesse sentido as empresas devem investir em prevenção, com foco para:

  • Elaboração da Análise Ergonômica do Trabalho com foco na avaliação dos postos de trabalho que exijam levantamento de peso, torção ou flexão de coluna;
  • Avaliação de atividades que exijam forças de empurrar e puxar;
  • Identificação do risco para a coluna lombar e limite de peso recomendado para a atividade através da aplicação de metodologia própria para avaliação desse agrupamento muscular, como a NIOSH Lifiting Guidelines;
  • Buscar alternativas para execução das tarefas, como redução do peso de materiais, instalação de mesas pantográficas, etc.
  • Realização de treinamento de colaboradores em boas práticas de manipulação manual de materiais;
  • Instrução de colaboradores para manipulação conjunta de materiais pesados;
  • Disponibilização de equipamentos apropriados para movimentação de cargas;
  • Sinalização de postos de trabalhos de forma a orientar a movimentação de materiais.

Bibliografia

  • www.mundoergonomia.com.br
  • www.cmqv.orgwww.ergocompany.com.br
  • http://www.ergocompany.com.br/noticias/cinto-lombar-no-trabalho-conheca-seus-riscos
  • https://www.cdc.gov/niosh/docs/94-127/
  • http://ergo-plus.com/wp-content/uploads/Single-Task-Examples.pdf
  • https://drauziovarella.com.br/envelhecimento/hernia-de-disco/
  • http://www.minhavida.com.br/saude/temas/lombalgia
  • Norma Regulamentadora n° 17 – Ergonomia
  • Manual de aplicação NR-17
  • ISO 11.228 – Ergonomics – Manual Handling
  • Bernardes, João Marcos; Moro, Antonio Renato Pereira. Cintos Lombares no Ambiente Ocupacional: Quais São as Evidências?. Disponível em: https://www.producaoonline.org.br/rpo/article/viewFile/694/865